Filosofia cristã
Gabriel Marcel: Existência como mistério
Gabriel Marcel nasceu em Paris a 7 de dezembro
de 1889. Sua mãe Laure, filha de banqueiros judeus, morreu quando
Gabriel tinha apenas quatro anos (1893). Na sua autobiografia considera
que este acontecimento foi um dos momentos de trevas da sua vida.
Gabriel foi então criado pelo pai Henri, Conselheiro de Estado e
diplomata, e pela tia, Marguerite Meyer, com quem o pai casaria mais
tarde. No ano de 1898 Henri é enviado para a Suécia, onde Marcel
passará alguns anos.
De volta a França, Gabriel Marcel começa a
estudar Filosofia no ano escolar de 1905-1906, tendo-se depressa
apaixonado pela “matéria”. Após terminar o ensino secundário,
inscreve-se na Sorbonne, onde prossegue o estudo da disciplina. A sua
tese, “Les idées métaphysiques de Coleridge dans leurs rapports avec la
philosophie de Schelling”, foi apresentada em 1909 e publicada em
1971. Assistiu às aulas de Péguy, Maritain e Bergson, o professor que
mais o marcou. Como era também dramaturgo, Gabriel Marcel publica em
1911 a peça “La grâce” e em 1913 “Le palais de sable”.
Após obter a agregação em Filosofia pela Sorbonne, leciona em diversos estabelecimentos do ensino secundário: Vêndome (1912), Paris (1915-1918), Sens (1919-1922), Paris (1939-1940) e Montpellier (1941).
Após obter a agregação em Filosofia pela Sorbonne, leciona em diversos estabelecimentos do ensino secundário: Vêndome (1912), Paris (1915-1918), Sens (1919-1922), Paris (1939-1940) e Montpellier (1941).
Embora não tivesse participado ativamente na I
Guerra Mundial, junta-se em 1914 à Cruz Vermelha Francesa com a missão
de encontrar militares desaparecidos. Os horrores de que tem
conhecimento experimentado fazem-no abandonar o seu idealismo, passando
a um humanismo mais concreto. Durante a guerra, e depois dela, escreve
algumas notas em que desenvolve fortes tendências existencialistas.
Estes textos foram publicados em 1927 sob o título de “Journal
Métaphysique”.
Terminada a guerra em 1918, casa no ano seguinte
com Jacqueline Boegner, que morreria tragicamente em 1947, após doença
terminal. O casal havia adotado um filho, de seu nome Jean Marcel. No
ano de 1929 Gabriel Marcel converte-se ao catolicismo, recebendo o
batismo no dia 23 de março desse ano.
Já a 1932 Gabriel Marcel profere uma conferência
na Sociedade de Filosofia de Marselha sob o título “Positions et
approches concrètes do mystère ontologique”, considerado o seu trabalho
mais significativo, pois nele distingue essencial e metodologicamente
entre “problema” e “mistério”, entre “ter” e “ser”. Se o “problema”
visa ser resolvido sem implicações de ordem subjetiva, o mesmo não se
passa com o “mistério”, que diz justamente a implicação do sujeito no
perguntar que está longe de ter uma solução definitiva e irrecusável. O
mesmo se passa com o “ter” e o “ser”, enquanto dimensões irredutíveis
da realidade, sendo que a primeira pertence à dimensão problemática e a
segunda à dimensão misteriosa. Na verdade, o homem é essencialmente um
mistério.
No período que compreende a sua busca religiosa e
posterior conversão, Gabriel Marcel publicará, em 1935, uma das suas
maiores obras: “Être et avoir”. Obra na qual fala da existência como
“encarnação”, ou seja, da existência corporal como inserção no mundo e
ao mesmo tempo como abertura ao Absoluto, recuperando as categorias de
“mistério” e “ser” em oposição a “problema” e “ter”, que já havia
definido em “Positions et approches…”.
Terminada a II Guerra Mundial (1945), Gabriel
Marcel proferiu as “Gifford’s Lectures” em Aberdeen, na Grã-Bertanha,
nos anos de 1949-1950. Entre 1950 e 1951 publica “O Mistério do Ser”,
em dois volumes. Deu ainda as “William James Lectures”, nos Estados
Unidos da América, em 1961. Além do título de doutor “honoris causa”
conferido pelas Universidades de Tóquio, Salamanca e Paul (EUA),
recebeu ainda o prémio da Literatura da Academia Francesa (1948), o
Grande Prémio Nacional de Letras (1958) e o Prémio Erasmo (1969).
Gabriel-Honoré Marcel morreu a 8 de outubro de
1973 de ataque cardíaco, na cidade de Paris. Teve exéquias solenes na
Igreja de São Sulpício, presididas pelo Cardeal Jean Daniélou. Repousa
no cemitério de Trocadero, em Paris.
Fonte: http://www.snpcultura.org/arquivo_index.html
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