sábado, 19 de janeiro de 2013

Alexandre de Hales

Por Prof. Evaldo Pauli
Oriundo de Hales, Inglaterra, depois de iniciar estudos em mosteiro local, foi Alexandre completá-los em Paris, onde logo também se tornou mestre notável.
Nota-se no seu pensamento a influência agostiniana dos vitorinos (da escika de Saint Victor do monte de S.Genoveva). Antes de 1210 foi mestre na Faculdade das Artes de Paris. Por volta de 1221 passou a mestre de teologia. Secular por muitos anos, ingressou já em idade madura, na ordem franciscana, ali pelos anos de 1231.
A escola franciscana de Paris, – como já se disse, – foi integrada em 1231 na universidade, e Alexandre foi seu primeiro catedrático. Nela se conservou até 1238 ou 1239. Isto vem fazer dele o mestre dos demais grandes mestres franciscanos que se hão de seguir, como João de la Rochelle (1200-1245) e São Boaventura (1221-1274). Este o chamou “pater et magister noster“.
Com isso, o agostinianismo de Alexandre firmou-se como tradição na ordem franciscana, embora com diferentes evoluções, que irão até Duns Scoto e Guilherme de Ockam.
Conheceu Alexandre também a Aristóteles, assimilando-o porém muito pouco. Aproveitou também a Avicena e a Averróis.
Faleceu em 1245. Ficou conhecido sob o título Doctor irrefragabilis,e ainda Doctor doctorum, Theologorum monarcha.
Obras. Escreveu Alexandre Hales uma Summa theológica, a qual foi prescrita, para uso da Ordem dos franciscanos, pelo Capítulo Geral de Perpignan (1331), depois também pelo de Tolosa (1373). Por isso mesmo veio a ser conhecida como “Summa minorum“, ou seja, da Ordem dos Frades menores, como diziam de si mesmos os franciscanos.
Uma edição moderna da Summa minorum, em 4 volumes (1924,1928,1930, 1948), permitiu melhor conhecimento do pensar de Alexandre Hales.

Outra obra importante de autoria de Alexandre Hales é Glossa in quatuor Libros Sententiarum Petri Lombardi (em tomos impressos respectivamente 1951, l952, 1954, 1957) . A obra foi descoberta por P. Hequinet, O.P.M.
É autor ainda de Quaestiones disputatae antequam esset frater.
O Comentário à regra de S.Francisco é autêntico. Também o parecem ser a Concordia utriusque juris e os Comentários a Aristóteles.
Certamente não são de sua autoria o Mariole magnum e a Expositio missae que lhe tinham sido atribuídas.

A Summa theológica de Alexandre de Hales foi resultado de quase uma compilação, não parece ter data. Foi citada a primeira vez por São Boaventura pelos anos de 1250 em seu Comentário sobre as Sentenças.
Efetivamente foi escrita segundo o plano do Livro das Sentenças de Pedro Lombardo. Dividida em 4 livros, trata:
  • De Deus (I),
  • Das criaturas (II),
  • Do Cristo (III),
  • Dos sacramentos e dos fins últimos (IV).
  • O plano, que também lembra o de João Damasceno (c. 675-c.749), – que aliás influenciou as sumas teológicas em geral, – é tipicamente teológico, em virtude de começar por Deus, prosseguindo com a criação e rematando com a redenção e seus meios, os sacramentos.
Na obra se juntam ainda o Trivium e o Quadrivium, no evidente propósito de pôr as ciências em função à salvação eterna.
Não tendo sido ultimada pelo autor, que chegou até a metade do tratado do sacramento de penitência (IV parte), mandava em 1256 o papa Alexandre IV, que se completasse, tarefa cumprida por Guilherme de Méliton. Mas ocorreu ainda a interferência dos mestres do tempo no corpus todo, o que veio criar sérias dificuldades para se conhecer hoje qual o Alexandre originário.
Sabe-se que a Summa de Virtutibus (III, 26-69) é encaixe de Guilherme de Méliton ou outro autor posterior a São Boaventura.
Observam-se ainda tomadas de textos a Felipe o chanceler, Guilherme d’Auxerre, João de la Rochelle, seu sucessor na cátedra, e de São Boaventura.
Referindo-se a esta obra, – a Summa minorum - dizia o confrade Rogério Bacon, O.F.M.: “quam ipse (Alexandre) non fecit, sed alii” “Um cavalo não era o bastante para poder carregá-la” pilheriava, ainda (R. Bacon, Opus minus p. 326).
Doutrinas. Expôs Alexandre de Hales as tradicionais questões escolásticas, não sem atender alguns dos novos problemas levantados com a introdução de Aristóteles no Ocidente.
Mantendo-se na linha agostiniana dos vitorinos, estabeleceu que o inteleto possível é atualizado pelo inteleto agente, que possui uma luz natural impressa pela ação iluminadora de Deus.
Não deixou de haver ali uma concessão a Aristóteles, quanto ao intelecto agente, que entretanto o Estagirita faz ser iluminado pelo objeto. A iluminação se faria necessária sobretudo para conhecer aos espíritos e a Deus. Distinguiu a filosofia e a teologia pelo objeto e tipo de certeza.
Estabeleceu Alexandre Hales a composição hilemórfica de toda a criatura, inclusive da alma humana e dos anjos. A tese mais uma vez é agostiniana: A matéria espiritual seria isenta, porém, do movimento local e da corrupção próprias da matéria corporal.
Deus se alcança também pelo argumento ontológico, o mesmo de Santo Anselmo. Outro argumento é o da causalidade; Deus é conhecido pelos seus efeitos, o mundo.
Ao lado deste conhecimento discursivo, põe ainda o inato:
Duplo é o conhecimento natural de Deus: cognitio actu, cognitio habitu.
O conhecimento em hábito nos é naturalmente impresso, porque em nós se encontra naturalmente como hábito impresso, como uma semelhança no inteleto da primeira verdade, por meio do qual se pode depreender sua existência e não pode ser ignorado pela alma racional” (Alex., S. Theol. Introd. XXX, 6).